Aromas da quinta

No fim de semana fui visitar a Ti Gervásia. Encontrei-a toda afogueada com as tarefas da quinta, entre as ervas aromáticas, onde se misturam os cheiros do poejo e do coentro.

Ficou feliz de me ver:

-Ó filha, por aqui? Olha, vieste mêmo em boa hora. O mê Manel teve a colher umas abóboras que são uma maravilha. Depois levas uma!
- Ó Ti Gervásia, não precisa apoquentar-se com isso. Como é que vai essa saúde?
- Ai filha, isto a velhice já quase na me dêxa fazer as coisas.
- Qual quê Ti Gervásia! Velhos são os trapos!
- Isso é conversa! Qu'ê cá na me dexo levar em cantigas! Inda no outro dia acordei com uma derrenguêra tã grande que nem me conseguia endirêtar. Fu ó médico da cáxa e o magano disse-me que ficasse de repouso uns dias. Tá-se mêmo a ver qu'ele que na entende nada do trabalho do campo. Ora s'isso tem algum jêto? Ê dêtada que nem uma madame o dia todo... Ai, ai. Mas olha, agora vou melhorzinha, dei aqui umas esfregas d'alcóol e isto aliviou.

Estava bonita a hortinha da Ti Gervásia. As tomateiras, as couves, as alfaces, tudo tão verdinho e tão bem tratado. Convidou-me para lanchar. E foi assim, entre uma boa caneca de café de "chocolateira" e fatias de bolo de mel, misturadas com queixas das maleitas próprias da velhice, da piguerrice do Ti Manel que tá a ficar desconfiado por mor da surdez e do raio dos preços das coisas que não param de subir, que se passou uma amena tarde de cavaqueira. Fiquei de lá voltar por um destes dias.

Até breve Ti Gervásia!